Fiquei atordoado com a notícia, o Felismino está infectado.
-Arre! Que eu estive com ele no serviço num destes dias.
Deixa-me fazer contas! Não sou capaz, estou a ficar
atrapalhado, já me estão a vir os sintomas.
Que paranóia, não me consigo concentrar. Ora quando é que
foi isso?
Cinco, seis dias! Não me lembro, que memória esta, que
atrapalhação.
E a malta que já lidou com ele? Aqueles que trabalham na
equipa, que andaram todos os dias juntos, cara a cara, ombro a ombro, todos
encartelados dentro daquelas viaturas.
-Nem quero pensar! Mas eu preciso pensar, mas não consigo.
Que atrapalhação, tenho o coração aos pulos, deixa-me fazer
o diagnóstico!
-Onde é que está um termómetro? Agora não encontro o raio do
termómetro! Mas ele estava aqui.
E eu a mandar piadas que era bom vendê-lo que rendia uns trocados, já que estão a custar €100 nas farmácias.
-Nunca vi o mercúrio tão caro. E agora não o encontro, que trapalhão eu estou.
E eu a mandar piadas que era bom vendê-lo que rendia uns trocados, já que estão a custar €100 nas farmácias.
-Nunca vi o mercúrio tão caro. E agora não o encontro, que trapalhão eu estou.
Deixa-me cá fazer um “check-up” aos sintomas do Covid a ver se não entro em parafuso.
-Ora febre altas não sinto; dores musculares também não;
resfriado também não apanhei e não sinto nada disso; dor de garganta um bocadinho;
mas o cheiro ainda tenho; os pulmões ainda é cedo, ardor nos olhos não; o
nariz ainda respira bem; tosse não; apetite era bom que me faltasse, mas por
outros motivos.
Bem, acho que é só esta sensação na garganta, para manter a paranóia.
Há que acalmar, não há-de ser nada. O que me assusta mesmo é
esta falta de defesas que tenho no organismo, que qualquer gripe me tomba.
Vamos ser optimistas, que o pensamento positivo também
ajuda, diz-se por aí agora.
E os colegas dele? Não me saem do pensamento. Como é que eles se
sentem no meio deste turbilhão. Devem estar com a cabeça a mil. Deve-lhe ter caído
a notícia que nem uma bomba.
Eles estiveram em contacto muito próximo com o Felismino,
vão ter que fazer o teste.
E ele vai ter que ficar em isolamento e fazer a quarentena profiláctica, confinado no quarto
sem receber visitas e ter lá as refeições, usar casa de banho em separado e
sei lá que mais. Que horror, pior que estar preso, é estar também doente!
Esta porcaria deste bicho agora entra num nova fase,
chamam-lhe a fase da mitigação, que é ainda é mais assustador. Parece que é a
fase em que todos podem ser contaminados por todos, em que a pandemia fica sem
controlo e não se sabe de quem pode vir. Se do colega de trabalho, da família,
do funcionário do supermercado, do funcionário dos serviços públicos, do enfermeiro,
do médico, do contentor do lixo, do puxador da porta, de um raio que parta isto
tudo, que agora todos somos suspeitos.
Vai andar tudo a fugir uns dos outros como se tivéssemos a tinha.
Não é Covid!
Vamos ter que nos proteger mesmo, principalmente dos mais velhos,
parece que estão todos a tombar.
Há quem diga que parece que foi feito por encomenda, uma
espécie de corona-velhos. Apanha todos por esses lares fora. Até parece que são
uma espécie de dirigíveis direitinhos aos mais velhos, que lhes destrói o
sistema respiratório e pulmonar, que por serem mais fracos e terem
poucas defesas. Mas os outros também não escapam, que disto ninguém se fica a
rir.
Entram pelo nariz ou pela boca. Multiplicam-se
aos milhões nessas vias e saltam cá para fora mais longe que perdigotos, daí o
dever de guardar distância de uns três passos e usarem máscara, pelo menos os
infetados.
Agora não é o problema do mau hálito é o corona, que dizem
que é tão frágil mas que se reproduz só nos humanos e se aguenta nas zonas húmidas,
mas que morre ao sol.
Venha lá esse verão a ver se nos livramos deste pânico, mas
entretanto lavem essas mãos usem o gel desinfetante, mantenham as distâncias, que isto de
luvas e máscaras para todo a gente, no meio desta guerra são armas que não
chegam para todos e livrem-se de cair num hospital que aí pode ser mesmo
o fim.