sábado, 16 de novembro de 2013

O DIA EM QUE TUDO MUDOU


É sabido que as guerras são provocadas por questões económicas.


Sabemos que os EUA estão completamente endividados e que a única salvação por eles encontrada é aumentar o teto da sua dívida. É o mesmo que dizer que os americanos estão sem dinheiro para as suas despesas e que a solução é pedir mais dinheiro emprestado, continuando a endividar-se até não poder mais.

O problema é que se não se financiarem, aquele país afunda-se e se isso acontecer arrasta tudo atrás de si.

Sempre que este país está em crise inventa uma guerra, para relançar a sua economia e sabemos também que os problemas surgidos na crise do “subprime” não foram resolvidos e não tarda muito vão reaparecer, porque as formas de resolver a economia continuam as mesmas, através de alavancagens ardilosas e que agora o problema já não está só na banca e está já nas empresas que se financiam através de obrigações no mercado como é bem visível em Portugal, tal como nos EUA. A causa é não conseguirem crédito bancário por terem avaliações de rating baixo para o seu financiamento, empurrando o risco para o cidadão que ingenuamente acorre a esses aumentos de capital atraídos por juros mais elevados.

Estamos bem recordados das guerras produzidas por causa das recessões americanas.

Mesmo os mais novos lembram-se da guerra contra o Iraque no início dos anos 90, depois no início deste século novamente com o argumento do ataque ao terrorismo islâmico, a Guerra ao Iraque que ainda hoje se fala. Uma década depois e ainda bem presente o ataque à Líbia e agora o pretenso ataque à Síria, com o argumento do uso de armas químicas por aquele regime.

Suspeita-se que estas guerras desde o 11 de Setembro de 2001, foram armadas para meter as mãos no Médio Oriente que fornece grande parte de petróleo ao mundo.

Que não só fornece petróleo como também gás natural e por isso é motivo de cobiça.

Por esta razão tem havido disputas e guerras para o controlo da região.

Sabemos também que o principal aliado dos EUA na região é a Arábia Saudita e que a Rússia controla parte daquela região e que ali tem interesses económicos.

Muito se tem falado sobre os interesses que os EUA e a Europa têm na região. Daí estarem apostados em fomentar guerras para apostarem em regimes próximos que lhes garantam manter o filão do petróleo e gás tão necessários para às economias ocidentais em declínio.

Após a destruição de Sadan Hussein, com o embuste do perigo para o mundo das armas de destruição massiva que nunca apareceram, conseguiu-se evitar que aquele país vendesse petróleo em Euros e desta forma ameaçasse a moeda padrão mundial, o Dólar. Tentou-se fazer o mesmo com a Venezuela e conseguiu-se mesmo com outros países de certa forma.

Posteriormente após um desejo de aproximação ao Ocidente destruiu-se a Líbia de Kadafi, que sonhava com a criação de uma moeda africana forte.

Mas os problemas económicos subsistem, perante a disputa de controlo do Médio Oriente, atrapalhada pela Rússia, em que esta controla parte dos gasodutos da região por onde o Ocidente pretende receber o gás natural essencial à Europa em que irá passar um deles pela Síria.

Sendo a Síria uma aliada da Rússia, o que é necessário é destituir Bassar al Assad, para deixar o caminho livre à construção do gasoduto e desta forma deixarem de ficar dependentes do fornecimento e controlo pela Rússia, uma vez que os outros países já têm caminho livre.

No seguimento da primavera árabe que se iniciou nos países da região, na Síria tentou-se o mesmo. Apesar do apoio do Ocidente aos rebeldes opositores daquele regime, não foi possível a mudança para um regime favorável.

Perante as dificuldades criou-se um pretexto de que a Síria estaria a usar armas químicas para matar o seu povo, facto este ainda não comprovado, suspeitando-se mesmo que tal veneno fosse usado pelos rebeldes impreparados para o seu uso.

Os americanos e europeus vieram logo acusar o regime Sírio de genocídio contra o seu povo, criando um pretexto para uma intervenção armada pelos EUA e seus aliados.

O Nobel da Paz, Barack Obama, disse que o uso de armas químicas não pode ficar sem resposta e fez saber que a operação militar, a avançar, teria características próprias: «[Será] apropriada, proporcional, limitada e não envolve “botas no chão” (...) a Síria não é o Iraque e não é o Afeganistão.»

Entre ameaças de intervenção armada, no dia 3 de Setembro de 2013, pelas 10H15, deu-se início ao ataque com o disparo de dois misseis que teriam sido intercetados pela Rússia, que destruiu um no ar e desviou outro para o mar.

Na Rússia a notícia espalhou-se, mas Putin prontamente a desmentiu. Possivelmente através dos canais diplomáticos iniciaram conversações com os americanos que terminaram com os ataques. Ao fim de duas horas estava tudo mais ou menos explicado.

A guerra começada pelas 10H15 terminou um minuto depois, com a interceção dos referidos misseis.

O prelúdio de uma devastadora guerra no Médio Oriente que ninguém percebeu o seu inico, acabou num ápice.

Putin, habilmente poderá ter aconselhado os americanos a desmentir a notícia, que era negada quer por eles quer por Israel, de que não haviam lançado nenhum ataque.

Depois surgiu a confirmação de Israel a informar, que os misseis teriam sido usados no âmbito de exercícios militares conjuntos entre os dois países, mas que nada tinha a ver com a Síria.

Agora o que não foi dito parece ter sido bem diferente.

Os EUA deram início ao ataque à Síria, apesar de os Russos terem dito através de Lavrov que um ataque à Síria era considerado um ataque à Rússia. Deixaram claro que não aceitariam ser mais vezes enganados como aconteceu com a Líbia.

Os Americanos não levaram a sério, mas ao que parece ao ver os seus dois misseis intercetados, perceberam que afinal os Russos estavam ali para defender a Síria e os seus interesses e que a persistência no ataque podia criar um conflito sério e arrastar-se para uma 3ª Guerra Mundial, em que os EUA não estão em condições de suportar. E a nível militar sentiram-se surpreendidos pelas capacidades dos Russos, que não só os neutralizaram como aumentaram a sua presença na região.

Daí que se possa afirmar que uma guerra que podia ser devastadora para a humanidade, foi inteligentemente bem gerida por Putin. Convenceu os EUA a porem termo às suas intenções e ainda lhe serviu de bandeja uma forma airosa de sair desta humilhação, que ao que parece passou por convencer Israel a assumir o disparo dos misseis e inventar um teste ao seu sistema antimíssil.

Ainda também circulou a notícia que os misseis teriam ser disparados de uma base militar dos EUA em Espanha, sabendo-se que tinha sido negociado em Abril com os espanhóis o seu uso para atacar a Síria. Mas por estes lados não se soube nada, porque tudo foi abafado e a única coisa que transpareceu foi que os EUA aceitavam não atacar a Síria se esta se comprometesse a entregar o seu arsenal de armas químicas, por proposta de Putin.

Possivelmente uma imposição Russa depois do incidente militar e tudo orquestrado nesse sentido, uma vez que os Sírios não se opunham.

Os Russos deram-lhe a deixa e agora sobre a sua imposição, assinou-se um acordo em Genebra, em que nem sequer se acordaram consequências caso a Síria não cumprisse.

Vem também a provar-se que os rebeldes sírios não estão interessados na paz, ao não comparecer à cimeira e acusando de traição quem lhe dava apoio bélico.

Perante este cenário os americanos abriram as portas com toda a cordialidade ao velho inimigo Irão.

A oposição síria comandada pelos sauditas implodiu e espalha-se por várias facões cada vez mais radicais perdendo terreno para o exército sírio. Correm notícias de que Riad está a mobilizar grupos islamistas sob seu controle, como nova força combatente na Síria.

Os Sauditas foram apanhados de surpresa e agora sentem dificuldades em encontrar apoio dos países sunitas da região, contra o irão que agora se aproxima dos EUA, e devido ao sucedido com a Síria e pelas conversações de Genebra.

Depois de gastarem milhões na aposta de mudança de regime da Síria, os Sauditas sentem-se agora sozinhos e boicotaram a sua tomada de posse no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como uma manobra de protestar contra a sua falta de controlo na região e contra a reviravolta americana.

Os americanos e europeus “enfiaram a viola no saco” e perceberam que o mundo mudou.

Tudo isto por causa de dois misseis e no espaço de um minuto.

As voltas que o mundo deu.