quinta-feira, 3 de abril de 2014

A Crimeia e muito mais

Ainda não escrevi sobre a questão da Crimeia, das questões geo-estratégicas e políticas de Putin.
Mas falemos agora de gás e questões energéticas. 
Sabe-se que a Rússia fornece gás à Europa através da Ucrânia, estando tão dependente ela da venda assim como da compra a Alemanha a França ou Itália,  que são as economias motoras da Europa.
Falou-se em aplicar sanções e começou-se por congelar contas aos oligarcas Russos.
Os Russos deram gargalhadas e parecem não estar muito preocupados com isso. O que é certo é que desde a anexação já muitos biliões saíram da Rússia, tendo inclusivamente a Rússia suspendido um leilão de dívida por causa da questão da Crimeia. 
Acredito que a saída de capital e falta de investimento estrangeiro naquele país poderá provocar uma desvalorização do Rublo.
Mas se a sua moeda desvalorizar, os russos que é que perdem?
Ninguém quer uma moeda dessas. Tudo foge dela e provoca uma debandada que poderá ser semelhante ao que aconteceu no inicio do ano nos países Asiáticos e nos em vias de desenvolvimento como o Peso ou a Rupia ou Lira Turca, etc.
Para os Russos é mau, sim senhor. Mas uma moeda fraca pode provocar diversas reacções.
Pode obrigar os Russos a largar no mercado as suas reservas e dólares que não devem ser assim tão poucas.
 Pode provocar dificuldades a nível de trocas comerciais  tornando-se uma moeda fraca.
A Rússia vende o seu petróleo e gás mais barato à Europa que até tem agora uma moeda bastante forte, o Euro. Compra aquilo que precisa mais caro, enfrentando falta de recursos financeiros.
Vistas as coisas a Rússia asfixiará em breve.
As previsões dos especialistas, falam numa fuga de investimento e de capitais que poderá rondar entre os 70 a 100 biliões de dólares, fragilizando a economia russa que segundo se veio a saber já se encontrava antes desta questão em desaceleração e agora se prevê que por causa da Ucrânia, pode cair entre 2,5 a 3%, preparando-se as agências internacionais para baixar o rating da Rússia.
A nível da ONU, condenou-se a intervenção na Crimeia, no G7 afastou-se a Rússia e a nível do G20 a Europa e Estados Unidos tentam fazer-lhe o mesmo.
Mas parece que o G20, não vê as coisas do mesmo modo e quanto a fuga de capitais da Rússia, já há muita gente a pensar em regressar àquele país. 
Mas Putin, o homem da KGB, não se preparou para todas as eventualidades antes de anexar a Crimeia depois do referendo o ter pedido?
Nós no ocidente estamos há muito habituados a ver o mundo sempre na preservativa das notícias que nos dão.
Primeiro os russos viveram séculos virados para o Oriente e só nos últimos três séculos é que se viraram para nós também.
Quanto aos americanos que estão lá longe sempre precisaram de guerras para alimentar o sistema que eles impuseram ao mundo e que sempre nos quiseram crer que só tinha esse caminho.
Fazer guerras lá com o Vietname o Irão, Afeganistão, Iraque, Líbia, manter o jugo dos países da América Latina, ou fazer manobras militares provocatórias junto a certos países como a Coreia do Norte e China, tudo bem, agora empurrar uma Europa para uma Guerra com os Russos aí alto, que são as nossas vidas.
A Europa precisa de alargar fronteiras, já fez antes para a ex-Jugoslávia e agora quer crescer para a Ucrânia, conforme cresceu para leste com o fim da URSS, como fez com a Polónio, Roménia, Letónia, Checos, etc e até já marcou manobras militares da Nato com a Ucrânia. 
Precisa de mercado para crescer e por ser uma questão de sobrevivência uma vez que está completamente endividada com PIB's baixíssimos e dividas estrondosas quase todas muito acima dos 100% como o nosso caso, a Itália ou qualquer outro país europeu.
Putin sabe disso tudo. A Rússia também passou por um depauperado momento com o fim da URSS.   
Os Russos sentiram na pele a pobreza, mas reergueram-se aos poucos.
Com a Crise da Crimeia antes de agir, Putin precaveu-se e virou a Oriente.
Enquanto todos os olhos estavam postos na Ucrânia e na Europa, Putin fez acordos a Oriente dando o seu golpe de misericórdia.
A Rússia vai assinar brevemente contratos militares e de concessão e fornecimento de petróleo e gás com países asiáticos, principalmente com os chineses que precisão dele para as próximas décadas. 
A Rússia tem imensos recursos naturais que tem que desenvolver e alavancar desta forma a sua economia.
O consumo de gás natural na China irá duplicar nas próximas duas décadas e estes dois países vão acertar-se.
Com isto a acontecer que se espera de uma Europa?
Definharemos aos poucos, com Russos e Chineses a controlar a economia, com uns a vender recursos naturais (gás e petróleo) e outros a produzir bens.
E se eles negociarem entre si com a própria moeda?
Que vai ser do Euro ou do Dólar?
Quem vai querer tais moedas a não ser só nós no Ocidente, quando até aqui o dólar é que dominava?
Fala-se na exploração de xisto nos EUA, mas quando isso trará resultados para a Europa se os cortes forem imediatos e a crise se alargar?
Mas Putin já começou a sua operação de charme, junto dos EUA e não só para fazer com que tudo fique na mesma.
É certo que a guerra ainda não começou mas a Rússia já há muito que se está movendo para ter o controlo  sobre estes factos, juntamente com a China e até já se fala na criação de uma nova moeda baseada em ouro (valor fiduciário).
Claro que há alternativas energéticas, mas a produção de urânio, os russos também controlam em cerca de 40%, se bem que a Austrália e o Canadá produzem boa parte dessa energia  e aí os europeus e americanos também estarão dependentes, até porque se estima que o consumo aumente preparando-se o Canadá para duplicar a produção até 2018 e aí frustrar os planos de Putin e do Cazaquistão.
Mas até que isso aconteça os russos, ainda continuam a dominar o mercado do urânio. Com o desmantelamento das armas nucleares russas esse urânio foi vendido para alimentar as centrais americanas, que se tornaram dependentes dessa energia russa.
Aí é que está a apostar Putin, já há muito anda a fazer esforços para dominar grande parte da produção da energia mais limpa e mais viável, o urânio. 
Mesmo com os novos recursos do gás e petróleo do xisto os americanos não irão a tempo de substituir essa energia pela que é necessária para alimentar as suas centrais nucleares de energia limpa e tão necessária para as suas fábricas e grandes cidades. Ainda mais que as centrais nucleares não podem parar assim sem mais nem menos.
Foi aqui que Putin também apostou, sabedor do golpe que podia provocar.
Até há quem afirme que as sucessivas falhas de energia, do sistema obsoleto eléctrico americano, são já provocadas por sabotagens russas, que os americanos tentam esconder, causando sérios problemas nos vários Estados onde têm ocorrido as falhas de energia. Por esta razão ainda se torna mais necessária a energia nuclear. 
A Europa também está dependente dos russos no urânio, além do gás e petróleo, apesar dos novos contratos com os EUA de gás e petróleo para esse fornecimento em substituição da Rússia, dessa energia nuclear que Putin tenta controlar e só lhe resta as energias renováveis mas que ainda não são a solução suficiente se algum dia o vierem a ser.
A Associação Nuclear Mundial previu que o consumo global de urânio irá aumentar 33% até 2020, em seguida, subir mais 100% ao longo da próxima década. 
Em 2040, a capacidade mundial de energia nuclear deverá saltar 15-160 gigawatts - um aumento de 967%. 
Existem 432 reactores nucleares em funcionamento no mundo. 68 estão em construção, 167 estão em ordem, e 316 com novas propostas. 
Daqui se vê que a energia limpa apesar de perigosa também depende dos russos.
Quanto a perfurações elas começam a existir em aguas profundas que sai caro na sua exploração.
As ramificações desta nova acção são vastas, e poderiam bem ser o catalisador que 
deitará abaixo o dólar como moeda de reserva global, e mudará todo o cenário de como o 
mundo compra energia.
E a China, conjuntamente com a Rússia, têm agora o objectivo de se tornarem os 
controladores da energia e assim, controladores da nova petro-moeda.
A resposta habitual dos Estados Unidos para uma afronta destas, seria armar-se até aos 
dentes e dar uma lição a quem pretendeu ter a semelhante ideia de atacar o seu dólar, como já o fez anteriormente. 
Agora os chineses planeiam criar uma nova moeda baseada no ouro que adquiriram nos últimos tempos e livrar-se das reservas em divida e dólares americanos.
Os EUA andaram demasiado distraídos com o Médio Oriente e outros países como agora a Ucrânia e estão essencialmente concentrados e manipulados pela economia de casino, manobrada pela Goldman Sachs que tomou conta do Capitólio esquecendo-se da economia real, a meu ver.
Os Estados Unidos estão tão embrulhados nos seus planos para arranjarem uma 
guerra com o Irão, ou com outros na região, que parece que nem se aperceberam dos 
avanços silenciosos da China e agora da Rússia que sem um tiro ou explosão, acaba de 
lhe dar um cheque-mate.
Os EUA já perderam a sua hegemonia bélica, estão à beira do abismo e 
com as suas principais fontes de rendimento cortadas, perdem a sua hegemonia 
financeira e os seus meios de influência.
Além de mais que os Russos não vão permitir outro teatro de guerra em mais lado nenhum à Nato, já dominam o armamento mais sofisticado. Por isso é que Obama anda tão cabisbaixo.