sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Capitalismo no seu esplendor

Ainda me lembro! Ou melhor, não consigo esquecer!
O meu sobrinho Miguel, formou-se em Gestão de Empresas, aqui há uns tempos, e entre coisas que me disse, ficou-me na memória, como que a fervilhar, o tom gélido com que afirmou: “Tio o meu objectivo é ficar rico no mais curto espaço de tempo possível”.
O paradigma dos jovens formados nas sociedades modernas. Serem ricos a todo o custo, o tal “laissez faire, laissez passer”, do Colbertismo, que define a criação e inicio do capitalismo puro e sem interferências, a lembrar os métodos escolásticos actuais insertos no “príncipe” maquiavélico em que “os fins justificam os meios” onde se deve obter os máximos ganhos a partir do menor esforço. Essa ideia perfídia, associando um procedimento astucioso e traiçoeiro que infelizmente está cada vez mais em voga.
“Não interessa como, mas sei é que quero é ser rico”. Isto é o que caracteriza a sociedade actual, onde estamos entranhados e para onde nos empurra o capitalismo sem freio, que teima em vingar a pretexto de que o mercado se regula a si mesmo e que não é necessária a intervenção de reguladores, nem há qualquer problema, porque no sistema, há formas de controlar qualquer falha através dos meios que as instituições financeiras dispõem para regular e intervir nos vários mercados.
Este ditongo que os sabichões de economia expressam, levando a crer que estava tudo bem e que as crises financeiras eram cíclicas e até eram boas para a economia e bolsas, onde surgiam boas oportunidades. Discurso este, que ainda não mudou para alguns “experts” financeiros e de mercados.
Bem, voltando ao meu “rico” sobrinho e para não me dispersar, ainda me lembro, que como ele, quando eu era mais novo, mais ou menos assim pensei. Mas depois de várias incursões e tentativas frustradas em negócios, incluindo claro está, a bolsa, aos quarenta descobri tardiamente que a forma de ganhar dinheiro, só mesmo do trabalho com que sempre parcamente me governei ao longo da minha vida.
Diz o povo, “Quem aos trinta não pode, aos quarenta não sabe e aos cinquenta não tem, nunca será ninguém”.
Este ditado assenta como uma luva nos desalmados gestores das grandes sociedades bancárias e fundos de investimento, que a partir dos quarenta se queriam reformar (de ricos) e conquistar um lugar ao sol.
A crise da “bolha especulativa” do chamado “subprime” das “offshores” e outros mais, é uma amostra, porque o mal não se ficará por aqui.
Criaram uma espécie de pirâmide ou uma “Dona Branca” mundial onde aos poucos e poucos, uns poucos se foram engordando e alambazando, sugando para dentro da ilusória bolha, aqueles que a muito custo se tinham tornado menos pobres.
Esses menos pobres que somos nós, aqueles que hipotecariamente compraram casa, carro, férias, electrodomésticos, etc, umas coisas atrás das outras. Criou-se uma necessidade de consumo em que poucos foram engordando à custa de muitos que alimentaram ilusões.
Houve também países, que descobriram esse filão e se converteram ao sistema capitalista e por mais atrasados que fossem a todos os níveis, dispuseram de produtos mais baratos, “chinesices” que nós comprámos, porque estávamos a poupar dinheiro, Pudera! Mas as fábricas também viram isto e mudaram-se daqui para esses países, procurando mais lucros e mão de obra mais barata. E nós? Nós começámos a ficar desempregados, a deixar de pagar os empréstimos hipotecários, (para não falar dos sobre endividados dos empréstimos sobre casas sobre avaliadas que rebentou com isto tudo, a tal pirâmide do “subprime”) começamos a ir para o olho da rua, perdendo as nossas casas e bens e ficámos sem nada. Quebrou-se o elo de ligação produtor consumidor.
Os bancos ficaram desconfiados, não fiam, a economia asfixia-se, os industriais e os agricultores não vendem porque não há dinheiro e a crise e desemprego agravam-se até vir a fome e a miséria, o caos. Porque “em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”.
Mas ainda estamos na fase em que os governos e bancos centrais emprestam dinheiro aos bancos “os culpados”, para garantir os depósitos e evitar a debandada dos dinheiros. Mais um “bluff”.
Garantindo dinheiro a circular, baixando as taxas de juro, tentam ganhar a confiança e relançar a economia.
Mas este é só um problema adiado porque o dinheiro é dos contribuintes “sai do orçamento” e deixa-nos mais pobres pagando balúrdios aos bancos por lixo que já não vale nada.
Desconfio que com isto tudo, inundam o mercado de dólares e outras moedas em que o dinheiro perderá credibilidade, os investimentos feitos podem tornar-se ruinosos por tanto dinheiro injectado sem regresso, numa economia perdida e cada vez mais enterrada no abismo que aos poucos nos vai sugando, quer pelas dividas quer pelo desemprego até chegar à fome e à guerra, que a História já nos ensinou (lembram-se? Se não lembram vão ler! Está nos livros de História, entre outros).

Oh Miguel, o que nos espera ainda!

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