Agora lembra-me os tempos idos da história. Quando o confisco
real e feudal espalhava o terror pelas terras e aparecia recolhendo os
bens produzidos pelos pobres vassalos, deixando-os à mercê da miséria, sem nada
para tragar.
Agora estes são novamente os tempos do terror fiscal, em que o Estado
depois de ter tirado os direitos sociais, destruído o trabalho e oferecendo
ordenados de miséria acaba de nos confiscar os últimos dízimos que nos restam
na algibeira tornando-nos novamente servos neste modelo económico neoliberal.
Bufos uns dos outros na simples toma de um café, em que
muitos invejosamente ou iludidos com um beneficio fiscal paupérrimo, nos
tornamos reféns de um controle de todas as nossas vidas em que o fisco saberá
bem observar pela vezes que ainda alguns vão de férias, ao restaurante ao
cabeleireiro ou sei lá que mais, que além de poder controlar as nossas vidas saberão
avaliar onde poderão confiscar mais uns cobres daqueles que ou ingenuamente ou
teimosamente ainda tentam fintar a penúria das suas vidas diárias.
É altamente pernicioso este esclavagismo social e nós
cabisbaixos escondendo e tentando fintar a pelintrice, como que acreditando em
falsas promessas de dias melhores, cerramos os dentes, encomendamos um sorriso, fintando
a realidade que se anuncia na próxima factura das novas medidas de austeridade.
Consciente desta sôfrega realidade, eu queria era que os bancos
passassem facturas dos chorudos lucros com os juros da prestação da casa ou das
usurárias taxas aplicadas a quem usa o Cartão de Crédito para pagar no
supermercado a fome que se avulta silenciosamente. Mas para estes não há
factura!
Talvez seja mesmo só pela perda de tempo do funcionário
bancário prestes a despedir, ou pela tinta ou papel gastos na referida factura
e chuta-se os fiscais das finanças que passamos a ser nós, para fiscalizar os
galões e as sandes que sorvemos a correr para fintar a fome no café ao lado do trabalho, que não
sabe se abra ou feche de vez. Ou no mecânico que já faz biscates de mudanças de
óleo na garagem improvisada porque a oficina já o era e agora se ocupa da horta
nas horas vagas. Talvez fiscalizemos o barbeiro lá do bairro, o sapateiro do quiosque da
estação, já velhotes absorvidos naquela imensidão de tempo em que a cliente vasculha
o número de contribuinte e o ajuda na forma de passar a complicada factura dos simples
cordões de 50 cêntimos provavelmente chineses, livres de impostos e mais baratos
ainda que o custo da factura, dos atacadores que acaba de vender à vizinha
desempregada que precisa de uns novos para os sapatos que vai juntar ao fato
que lhe emprestaram para a entrevista do novo emprego de balconista, onde lhe
prometem 300 euros mais comissões de 1 por mil euros nas vendas das roupas que
já ninguém tem dinheiro para comprar.
.
É sabido que este modelo de confisco usado, além de nos
estar a levar à miséria está debilitar toda uma economia moderna, empurrando-nos
novamente para os primórdios da humanidade, em que as trocas directas dos
produtos, era a forma encontrada. É assim que estamos prestes a chegar, sem
trabalho, com um controlo fiscal, uma exigência declarativa de tudo que brilha
e mexe, a economia definha e é chegado um tempo em que não nos reste um tostão
para gastar nem um botão para declarar.
Será que o fiscal das finanças nos vem bater à porta para
nos confiscar as galinhas ou os tomates do quintal? É isto que nos espera, uma
economia bloqueada e paralela que nos levará à troca por troca, à caridade e à
fuga ao fisco, onde já nem uma dúzia de ovos podemos vender sem pagar imposto!
Mas ninguém enxerga isto?
E quanto ao fiscal das finanças se à saída do café lhe pedir
a factura, diga-lhe que foi ao wc e a usou porque já nem havia papel higiénico,
mas que dá sempre o número de contribuinte e que os 0,05 cêntimos declarados ao
fisco para IRS por café ao longo do ano, sempre dará pelo menos um euro de
reembolso. Uma fortuna, nos tempos que correm. Quase ao nível de uma conta offshore
dos banqueiros da nossa praça. Quase tapa o buraco do BPN.
Como diz o José Viegas, faça-lhes o manguito, já que ele os manda tomar "nucu".
Mas pronto se quiser ir mais longe torne-se bufo, vá ao site
das finanças e denuncie ali quem não declarar as facturas para IVA/IRS. Acho que
também dá prémio. Sempre dará para um rebuçado.
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