sábado, 2 de março de 2013

João Salgueiro manda limpar matas


(filho Carlos)
-Pai, não quero estudar mais!

(pai Joaquim)
-Já não queres estudar? Pronto, então para saberes "o que é bom para a tosse", vais trabalhar, que foi aquilo que a mim me fizeram quando acabei a 4ª classe. Puseram-me a carregar baldes de massa nas obras e nem sequer protestei. Mas como agora não há trabalho na construção civil, vais limpar matas, que parece que há aí muitas matas para limpar.

(filho Carlos)
-Limpar matas?

(pai  Joaquim)
-Sim, ou julgas que vais arranjar trabalho atrás de algum escritório a tirar um bom ordenado quase sem saber ler nem escrever? Isso é para os ricos e para quem tem cunhas. E até calha bem que eu andava aflito para segurar o teu irmão na Universidade, ao preço que está a vida e principalmente as propinas. Ao menos ele ainda tem vontade de estudar.

(filho Carlos)
-E de que adiante tirar um curso, se não há emprego na área dele?

(pai Joaquim)
-Na área dele e nas outras, mas ao menos emigra e alivia-me as costas cá em casa. Sempre é menos uma boca para sustentar. Já basta a tua mãe ter perdido o emprego na fábrica, sem direito a nada.

E o diálogo podia continuar, mas ficamos por aqui.

Eu por mim mandava-o guardar cabras. Se calhar por saber que ser pastor ainda é mais duro, ou se calhar por achar que as cabras por lá naquelas matas sempre as desbastam um pouco, ou  para ironizar.

Pelos outros, ou pelo Dr. João Salgueiro, o ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos, aposentado com 14.352 euros, ministro das finanças no PSD antes da 2ª intervenção do FMI em Portugal nos anos 80, ainda professor na Universidade Nova e da Juventude Universitária Católica no tempo em que o Joaquim carregava baldes de massa a troco de umas “cascas de alho”, por não ter tido oportunidade de estudar. Por João Salgueiro, o Carlos e outros desempregados iam obrigados pelo Estado para as obras ou limpar matas.

Por isso é que o Joaquim queria ver os seus dois filhos com um curso superior, para não serem obrigados a emigrar, como fizeram os seus irmãos mais velhos que “a salto”, fugindo por carreiros escondidos com passadores, atravessando rios gelados, dormindo em currais furtivos até conseguir chegar a França, vivendo décadas em barracas, para conseguirem amealhar alguma coisa.

Mas não para os comentadores do sistema, para os que criaram toda esta situação, “nós, o povo” os desempregados que muitos deles “fizeram das tripas coração” para dar um futuro melhor aos seus filhos, pondo-os a estudar, agora todos eles quer sejam formados ou não, mas só porque estão desempregados devem ir limpar matas ou para a construção civil.

Sabe porventura o Sr. Dr. João Salgueiro, como se encontra a construção civil neste país?

Sabe que já há muito ultrapassou os 100 mil desempregados e que é o maior flagelo nacional?

Sabe que há mais de três falências por dia nas empresas de construção civil?

O senhor sabe o que anda a dizer?

O senhor manda os desempregados cuidar dos idosos?
Sabe que hoje na Manifestação contra a Troika e o governo, a grande maioria eram reformados que já quase não ganham para comer e que lhes foram miseravelmente ao bolso neste corte cego das reformas, quando eram eles que ajudavam os seus filhos e netos desempregados, neste flagelo nacional?

São estes reformados que vão pagar para cuidarem deles como o Sr. Dr. manda? 
Oh senhor Dr. são os idosos que ainda podem, que cuidam e alimentam os filhos e os netos, que a Segurança Social, já há muito se está a dissociar deste problema. 

Por um salário mínimo, o Sr. Dr. ía cuidar? Então de borla muito menos, o senhor que sempre foi tão bem pago!

Diga-me uma coisa! Tem assim tantos pinhais ou eucaliptais, na família?

Quer que lhe limpem as matas de graça, ou quer trabalho de escravo?

É que não percebi! Fala no tempo da 2ª Guerra Mundial, em que as pessoas trabalhavam com as mãos, não tarda muito e está a dizer que o Holocausto foi bom.

O Sr.Dr. que foi presidente da Associação Portuguesa de Bancos durante tantos anos, cargo tão distinto, que andou por lá a fazer?

Sabe bem que a Associação a que presidiu tinha um Banco chamado BPN, em que os seus ladrões lesaram os Portugueses em 7.000 milhões de euros estimados e para esses nunca teve uma palavra?

Sabe bem que do empréstimo que Portugal recebeu da Troika, 12.000 milhões foram para ajudar os bancos da Associação a que o Sr. Dr. presidiu, dinheiro esse mal aplicado em especulação bolsista e em negócios ruinosos, dos quais não temos culpa! Mas agora temos que pagar com “língua de palmo” e esses bancos a “cantar como a cigarra”, a receber empréstimos a juros baixíssimos do BCE para especular em Obrigações do mercado financeiro enquanto nós pagamos esses juros da Troika a preços altíssimos com o corte dos nossos ordenados e reformas?

Quem é que devia ir limpar matas, cuidar de idosos, carregar baldes de massa, com as mãos como no tempo da 2ª Guerra Mundial? Os desempregados ou os culpados pela crise? Os homens do seu tempo, que foram os culpados deste estado de coisas!

Sabe, o Sr. Dr., de certeza que não tem filhos nem netos formados à procura do 1º emprego, nem familiares desempregados e desesperados com o pagamento da renda, o pagamento da luz, da água, ou da comida que falta na mesa. Porque para pessoas assim que sempre se alimentaram do sistema, para eles há sempre um lugarzinho em qualquer lado, para se ganhar dinheiro.


Nós sabemos qual é o propósito!

É criar os novos escravos.

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