segunda-feira, 15 de abril de 2013

AMÉLIA DESPIU A POBREZA

Amélia apareceu hoje nas notícias de televisão. Deixou cair a máscara que possivelmente há muito tempo a consumia, ganhou coragem a colocou um anuncio num placard de um supermercado “Pingo Doce” a oferecer-se para trabalhar em troca de comida.

É certo que o Pingo Doce anunciou a abertura de uma rede de supermercados na Colômbia, mas este anúncio foi mesmo colocado num desses supermercados em Portugal. 
Pelas imagens que vi na televisão, garanto que a realidade é mesmo portuguesa. Não vão pensar os mais distraídos que possam ser imagens de um país terceiro-mundista nos anos 80, como Colômbia, Bolívia ou outro qualquer país da América Latina, que na sua maioria nesses anos estavam subjugados aos programas do FMI, chamados de recuperação económica, que a pretexto dessa recuperação os povos trabalhavam a troco de comida, vivendo miseravelmente enquanto os países se afundavam e entregavam às empresas multimilionárias a exploração da sua riqueza natural e económica, com o conluio de governantes nepotistas e servi listas, apostados em vender a alma e os seus povos em troca de fortunas pessoais.
Felizmente que estes povos conseguiram libertar-se do jugo do FMI e agora dão cartas ao mundo como é o caso do Brasil, que bem conhecemos.
Agora os miseráveis, as “Amélias” somos nós, e sujeitos a um desses programas de assistência constituídos pela União Europeia e FMI, vivemos na penúria envergonhada e resignados vamos resistindo conforme podemos, escondendo enquanto for possível a desgraça do desemprego, das dividas e da falta de dinheiro para calarmos a fome, escondida muitas vezes numa carcaça rechonchuda engordada em tempos à custa de comidas nocivas que esta sociedade de consumo nos impingia, enquanto funcionava.
Agora vemo-nos gordos por fora, famintos por dentro, enclausurados entre observações de pessoas que sempre puderam e souberam cuidar do seu corpinho, com observações do tipo:
-Não parece que esteja a passar fome, até que está bem gordinho.
E é neste espartilho emocional que muitas Amélias deste país vivem. Gordinhas por fora e famélicas por dentro.
E assim se vai vivendo dentro desses três milhões de (in)concenciências, envergonhadas e pobres, fintando a misérias sabe-se lá até quando, por culpa de um Capataz chamado Gaspar, que como antigamente, eram o símbolo do servilismo de um tempo de má memória, mas apostados em regressar, pelas mãos de um governo cego e surdo para o país, mas que diz ao patronato chamado TROIKA, que vai continuar com mais austeridade ao gosto do patrão directo de nome Merkel.        

Amélia de que a televisão nos fala hoje, é a Amélia da coragem, que muitos ainda teimam esconder esperançados em falsas promessas e acreditados que esta politica é a solução, apoiada em mais e mais cortes e medidas de austeridade que nos levará à miséria de tempos julgados esquecidos.
 Esta Amélia é a Amélia da coragem, que nós teimamos em esconder. A Amélia que com mais amor aos seus filhos decidiu oferecer-se para trabalhar a troco de comida para lhes dar.
Esta é a antítese das Amélias que somos nós, um povo à beira do abismo e da miséria, mas que teima em ser Amélia.
Esta é a Amélia do fim do embaraço, que despiu a capa da vergonha e abriu o armário da realidade, vazio de pudor, que tantos pobres em Portugal teimam em manter fechado, por culpa de uma realidade imaginária que eles tardam em reconhecer, que os mantém anestesiados num sonho Sebastianista.
  
-Oh Amélia, afinal as Amélias somos nós!

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