domingo, 16 de fevereiro de 2014

OS NOVOS PORCOS

Antigamente o banho era considerado prejudicial se em excesso. Por norma tomava-se banho nas festas e quando o rei fazia anos, mas não podia ser no Inverno.


Por alguma razão os casamentos eram em Maio e Junho, porque as mulheres nessa altura já tomavam banho e sempre cheiravam menos mal da dita “boca do corpo” e o bouquet de flores também dissimulava o cheiro.

Por distinção hierárquica quando se tomava banho começava-se pelo pai, que era o chefe de família, depois a mãe e os últimos eram as crianças que quando chegava a sua vez já água do banho parecia uma pocilga.

As pessoas viviam assim todas porcas a cheirar mal e os locais onde viviam eram uma nojeira.

Nas cortes os nobres disfarçavam o mau cheiro com os primeiros perfumes que foram criados para mascarar essencialmente o mau odor das ditas partes, na gíria chamado “o cheiro a bacalhau”.

As poucas roupas que usavam tinham que ser poupadas, daí que só as lavassem no tempo quente porque secavam mais depressa e além de mais poucos tinham dinheiro para o sabão.

Como os cuidados de higiene não existiam, as pessoas viviam impregnadas de pulgas, piolhos e percevejos, animais que se alimentavam do nosso sangue como carraças.

Os percevejos que emitiam um cheiro igual ao fedor das pessoas, viviam nas camas feitas de palha de trigo ou folhelho. Muitas delas além do cheirete dos corpos e das muitas coisas que lá se faziam, pois não havia televisão, algumas ainda emitiam aquela fetidez quando as crianças incontinentes caldeavam mais o cheiro.

As moscas e os ratos eram ainda mais atraídos. Os animais domésticos vivam por ali por casa a ajudar a imundice.

Por essa razão as pestes aconteciam.

As pessoas quando se amontoavam por exemplo nas igrejas era um suplício, tal era o mau cheiro quer da boca com dentes podres, quer das partes ou do suor do corpo.

Nos locais mais aristocráticos usava-se abanos ou leques para afastar os maus cheiros.

De manhã quando as pessoas se levantavam, lá se viam elas a correr de tamancos ou  de “pata-descalça” para os arrabaldes donde moravam a "despejar a tripa". Tudo ali à volta era uma nojeira, as pessoas quase não tinham já espaço para defecar e no verão eram cheiros insuportáveis, além do cuidado a ter para não pisar os ditos "poilos"

Os que faziam de noite, de manhã abriam a porta ou a janela e viravam o balde ou o penico para o olho da rua para entreter as moscas, que depois iriam pousar nas suas comidas, no corpo deles e dos animais, provocando inúmeras doenças e epidemias mortais.

A título de exemplo, o carbúnculo que os moscardos nos transmitiam dos solípedes mataram muitas pessoas.

As crianças que nasciam ainda sem defesas, a maioria acabavam por sucumbir a infeções nos primeiros anos de vida.

A peste negra que matou um terço das pessoas era transmitida por estes animais já falados.

A cólera era transmitida por água contaminada e por dejetos fecais.

As doenças curavam-se com mezinhas e chás caseiros.

A assim se vivia na profunda miséria e ignorância.

Se agora víssemos uma pessoa assim chamávamos-lhe porco.

Há poucos dias li que no Iraque, há um homem que não toma banho há 60 anos e que fuma excrementos secos de cavalo. Foi notícia pelo mundo inteiro.

E agora é notícia os sem-abrigo que vagueiam por essas ruas de Lisboa e outros lados, sem se lavarem, sempre com a mesma roupa e sujos, a obrigar as pessoas a fugir deles, quer por medo ou pudor.

E os novos sem-abrigo, olharão para eles como vadios, toxicodependentes, ou alcoólicos, e que estes me perdoem que também são gente como nós, quando muitos tiraram cursos superiores.

Pelo que foi agora notícia parece que assim é. Este governo conseguiu destruir lares e ilusões a muita boa gente e muitos deles a tirar cursos com empréstimos bancários. Para quê?

Para irem mendigar um banho frio às instituições sociais?

E se eles tiverem vergonha ou demasiado orgulho, vão ser os novos "porcos"?

E o preço a que está o gás, a água e a eletricidade, quem vai poder tomar banho se muitos já nem isso pagam?

Vão criar balneários públicos para essa gente, ou vão também eles ser os novos "porcos".

Vamos sentir muito cheirinho a fedor de muitos corpos lá para o verão dentro desses transportes públicos e locais onde se apinhe muita gente.

Uns, porque tem que se poupar nos gastos dos banhos, outros na lavagem de roupa, outros sem dinheiros para perfumes ou desodorizantes, o que é certo é que prevejo a nova vaga de "porcos".

Também eu vou ter que começar por tomar menos vezes banho e fazer como antigamente, senão algum dia ainda me dá algum ataque ao ver a fartura do gás e eletricidade. E ainda não privatizaram a água, porque aí sim vou mesmo cheirar a porco.

Regrediremos assim só porque o dinheiro já não chega para nada?

Vamos andar de garrafões ou cântaros de água e de velas ou candeias?

Faremos fogueiras para aquecer a água do banho e cozinhar?

Seremos mesmo nós os novos "porcos"?


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