Viva Merkel, que venceu pela 3ª vez as eleições na Alemanha.
A Dona da Europa, fez uma campanha magistral, depois de ter
governado de uma forma ainda mais soberba.
Mas permitam-me que acrescente a isto um calculismo metódico,
frio, cínico e egoísta.
Sabendo que tinha que ganhar novamente as eleições veio
impor à Europa rigor nas suas contas e contenção governativa, a custo de uma a
austeridade aniquiladora de um progresso social, com trabalho e direitos destruídos,
onde até parece que os cidadão são os culpados desta hemorragia que destruirá a
democracia e minará a paz entre as pessoas.
Merkel com a sua atitude intransigente relativamente à
Europa nas soluções mais solidárias, no que diz respeito a dívidas e
deficits orçamentais, conseguiu ser reeleita pelo seu povo.
Então Merkel que nos agradeça!
Mas nem isso.
Com um discurso para os alemães, de que dívida é a mesma
coisa que culpa e que culpa é sinónimo de viver acima das suas posses, os povos
do Sul acabaram por eleger esta senhora.
Para os alemães, eles não estão para pagar os nossos
devaneios, é assim que pensam.
Nós que abdicámos de crescimento económico a troco de uns quilómetros
de alcatrão, para os Mercedes, BMW, VW, Opel, e seus Porches, que nos toldam as ideias e esvaziam os bolsos. Que aceitamos ser conquistados,
pelos supermercados Lidl ou Aldi e aqui vender os seus produtos, as suas salsichas, os seus
espargos. A Alemanha da Siemens dos electrodomésticos e equipamentos que
consumimos como a Teka e da Miele, nas nossas cozinhas, dos elevadores Schneider das nossas
gaiolas pagas com empréstimos feitos à banca que se endividou na Alemanha do Deutsche
Bank e Commerzbank, etc. Dos submarinos corrompidos que nem dá para falar, das lâmpadas
Osram que nos deviam iluminar as mentes, dos esquentadores Vaillant que nos lavam o corpo e a alma, da Grundig que nos podia abrir os
olhos para a realidade, ou Vodafone que nos entretém com conversas banais, a Alemanha que nos põe doentes e deprimidos e que depois nos cura com as suas Aspirinas e outros fármacos.
Uma parafernália de interesses que corroeram a nossa balança
comercial e nos tornaram um país devedor e importador a troco de uma adesão a uma
moeda que ironicamente nos está agora a querer matar.
Mas voltando um pouco
atrás, quem é a Alemanha?
A Alemanha é o país de Hitler, que quando se viu a braços
com uma crise resultante da superprodução de 1929, que levou à fome e miséria
pelo mundo fora, exportada da América, começou a viver tal como agora com
diferenciação de classes e onde como neste momento o trabalho é pago à peça em
função do serviço que executam e quando o há.
Salários pagos a 2 ou 3 euros por hora, a emigrantes que são
explorados sem conhecer sequer os seus direitos e tratados com escárnio.
Isto é Alemanha de hoje, por enquanto. A Alemanha que se
recusa a ser solidária com a Europa mas tirando proveito nos juros da sua dívida
que lhe permitiu poupar 41 mil milhões com a crise do Euro. O país de Merkel,
que recusa ser solidário nos Eurobonds, que nos acusa de gastadores irresponsáveis,
mas que tem problemas laborais e vai começar a ter problemas de exportação e de excedentes.
A Alemanha que faz trocas comerciais com a China,
fornecendo-lhe maquinaria para os chineses produzires os têxteis que nós lhe vendíamos.
A Alemanha colonial nos tempos modernos, que nos colonizou
com seus produtos e nos acusa de gastadores.
O país que beneficiou com a união da Alemanha de Leste, mais atrasada
mas instruída de onde saiu Merkel convencida que havia outros modelos melhores, mas que para crescer não promoveu o bem-estar social que deve
assistir à democracia e colocou camadas sociais com salários vergonhosos para
um país que se diz desenvolvido.
A Alemanha que beneficiou com o fim do Bloco de Leste que
lhe permitiu acolher mão-de-obra barata e abrir-se a esses novos mercados, tal
como nós e lhe permitimos chorudos lucros.
Uma Alemanha que cresceu numa conjuntura que se lhe tornou
favorável agora nos condena e nos acusa de culpados.
Culpados sim de termos aceite entrar numa corrida chamada
Euro, para a qual não estávamos preparados e que eles sabiam estar viciada.
Disso sim, somos culpados.
Culpados de pagarmos juros especulativos a troco da manutenção
de uma Alemanha em crescimento, que não quer ser afectada.
Sim a Merkel e a Alemanha venceram estas eleições. Agora já
pode soltar as suas garras e dizer aquilo que quer para o seu País e para a
Europa.
Agora já não há pressões eleitorais nem truques de palavras
como a “CULPA”.
A culpa agora será de quem não quiser ser solidário, de quem
achar que efectivamente anda a sustentar os outros, como pensa o povo
alemão, de que a culpa nem é deles.
E foi assim com este
tipo de culpa para a crise que o Nazismo cresceu e agora volta a desenvolver-se. E os outros são os culpados.
Uniu-se a Alemanha, e agora sem uma ameaça das armas, cria-se uma ameaça económica.
Portugal está à beira de um novo resgate, a crise na Europa
vai reacender-se, vamos ver como se comportará a Alemanha.
Não há duas sem três, por isso muito cuidado que eles vão
pensar mais ou menos da mesma forma que antes pensaram e aí sim volta a ameaça.
A não ser que perante as evidências que aparecerão, daqui a
uns tempos uns Russos ou coisa assim, resolvam entrar pela Alemanha dentro da
noite para o dia e...
Pensem nisso, pode muito bem suceder lá mais adiante.
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